domingo, 24 de janeiro de 2010

Coisas para não esquecer


O cenário da minha vida sempre foi muito simples, e como todo mundo, cheia de episódios agradáveis e outros menos.
Vou descrever agora, algumas cenas que ficaram gravadas em minha memória como um filme que assisti há muito tempo.
Com a idade já avançada corro o risco de esquecer-me deles, apesar de que são muito, mas muito importantes para mim.
Essas lembranças me vêem a cabeça e ao coração como se estivesse olhando para o céu estrelado: longe demais. Longe no tempo!
Tinha uns quatro ou cinco anos, e as vezes, quando meu pai chegava do serviço de bom humor, apesar de cansado, íamos na casa de minha avó que morava há uns vinte quilômetros de casa. Isso para mim e minhas irmãs era uma grande novidade, ficávamos esperando a chegada dele para quem sabe sermos comtempladas com esse passeio. Era muito bom reencontrar os avós, tias e as vezes alguns primos. Íamos de caminhão. Quando retornávamos, lá pelas dez da noite, já com sono, logo que pegávamos a estrada, via a Lua que me acompanhava até quase em casa. Andávamos, andávamos e ela também, sempre conosco. Passavam pessoas, casas, mato, carros, estrada e ela lá do nosso lado. Recordo-me com imensa saudade do vento fresco da noite clara de céu estrelado tocando a pele, o rosto, os cabelos, e eu menina, indagava comigo mesma por que a Lua nos acompanhava. Demorei muito para entender isso, por mais que meus pais me explicassem. Esse entendimento só me veio, quando comecei a perceber as coisas ruins da vida.
Naquela época, uma das coisas que me chamavam muito a atenção eram as cores. Um dos dias mais felizes da minha infância foi quando ganhei minha primeira caixinha de lápis de cor, quando entrei na escola. Lindos, eram somente meia dúzia, mas eram cor de maravilha, azul, amarelo, vermelho, roxo e verde. Ficava horas olhando para eles e querendo logo distribuir suas cores para o papel, mas também não queria estragá-los para poder admirá-los por mais tempo.
Quando em maio, ia para a casa da avó que morava perto da igreja de Santa Rita, ficava na janela ou na calçada, olhando durante horas para as bandeirolas de papel de seda que enfeitavam a rua para a festa. Haviam muitas delas em fios que se cruzavam , colorindo e dando vida a rua! Era tão pequenina, jamais poderia tocá-las, apesar de que a vontade era imensa. Queria que a festa acabasse logo para que quem sabe, com muita sorte algumas delas pudessem ser minhas. Nunca me esqueço, eram da cor dos meus lápis. Lindas. Balançando ao toque do vento. Quando chegava o dia de voltar para a casa de meus pais, seguia segurando na mão de minha avó, olhando para trás, despedindo-me delas. As vezes depois de algum tempo, ao retornar a casa de minha avó, ainda podia ver os restos das bandeirolas, desbotadas pelo tempo. Essas ficaram lá, bem no alto, nunca pude tê-las para mim, assim como outras coisas que ficaram apenas no plano dos sonhos. Ainda as vejo nítidamente balançando no compasso da minha memória.
O tempo passou, e no ano seguinte mudamo-nos para outra cidade, não muito longe dalí, porque meu pai havia arrumado outro emprego. Na rua onde fomos morar haviam muitas crianças, mais ou menos da minha idade. Quase morri de alegria com a novidade. Com o tempo, minha mãe ia nos soltando aos pouquinhos para brincarmos com os novos amiguinhos. Naquela época, no verão, depois do jantar,os adultos colocavam as cadeiras fora do portão para prosear com os vizinhos, enquanto acompanhavam as brincadeiras das crianças, ora rindo, ora chamando a atenção daqueles que por ventura abusassem daquela liberdade. Brincávamos de pique-pique, esconde-esconde, pulávamos corda, apostávamos corrida. Tudo isso descalços naquele chão de terra batida. Que delicia! Era muito pequena e já vivia com os joelhos esfolados ou sem as pontinhas dos dedões dos pés. Quando, depois de muito correr vinha-me o sono, sentava no colo de minha mãe, e olhando para as estrelas, com os ouvidos grudados em seu peito,adormecia, ouvindo lá longe, a doce voz de minha mãe conversando com a vizinha!
(minha autoria)

Um comentário:

Martha Facci disse...

Que delicia ler as suas historias, voltei à minha infancia, não muito diferente dos seus relatos...conta mais...grande abraço