quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Nata ou creme de leite?


Para nós aqui no Brasil, creme de leite.Em Portugal, nata.
Quando por ventura meu filho me pergunta qual sorvete quero, respondo: - Nata! Ele ri e me diz: Sorvete de nata não existe, mãe!
E quando digo nata, estou pensando em meu avô.
Os dois avôs eram muito queridos. O paterno era mais refinado, filho de família importante de Aparecida. Era bonzinho, mas não nos levava muito a sério. Magro, alto,filho de mãe alemã, era elegante, sempre bem vestido, usava sempre ternos.
Era curioso, como não frequentava muito nossa casa, fazia sempre um monte de perguntas para inteirar-se de nosso cotidiano.
Pontual, na casa dele as refeições eram sempre servidas na hora exata, meio-dia o almoço, às quinze o café, e o jantar às dezoito. Depois do almoço, descansava e tocava seu violão rodeado de netos. Na salinha de trabalho dele, tinha sobre a mesa blocos de papel branquinhos, canetas, tesoura, etc. Como gostávamos de brincar com seus pertences! E ele só ficava bravo com isso. Quando aborrecia-se conosco, gritava pela minha tia para salvá-lo.
Engraçado...ele brincou muito, rolava no chão conosco, mas não foi o que marcou mais para mim!
O avô materno, ah, esse sim, era um doce de avô!
Homem simples, trabalhador, sério, daqueles de palavra mesmo. Tinha uns olhos tão verdinhos, pareciam duas esmeraldas!
Esperto, fazia contas de cabeça, contava "causos".
Esse frequentava a nossa casa, vinha todo sábado, chovesse ou fizesse sol, ele estava ali.
Vinha visitar sua única filha, genro e netos.
Chegava de manhã e trazia sempre carne ou peixe,banana e lógico, um inesquecível sorvete de nata! Esse sorvete para quem tem mais ou menos a minha idade, vai saber do que digo. Era um tablete, imagino que pesando um quilo, dentro de uma embalagem de papelão.Que delicia, que saudade! Na época da páscoa trazia também paçoca que ele mesmo fazia. Ainda recordo com precisão o cheiro dele e das coisas que trazia.
Conversava conosco,as vezes alisando a toalha da mesa com as mãos enquanto minha mãe fazia o almoço. Na hora de ir embora dava a cada um dos netos uma moeda da época, para minha irmã, ele dava sempre mais porque era seu padrinho. Podíamos contar com essa mesadinha do meu avó, porque ela era certa!
Quando meu pai comprou a nossa primeira casinha, ele ajudou a pagar, nunca esquecerei disso.Todo mês trazia aquela quantia para inteirar a prestação da casa.
Era presente e carinhoso, dava-nos o que tinha de melhor!
Sonho sempre com ele, e nesses sonhos ele sempre vem me buscar, mas sempre respondo-lhe:- " Ainda não posso, vô!"
Meu Deus, quanta saudade da minha infância, do meu avô e de sorvete de nata!
(minha autoria)

Um comentário:

Anônimo disse...

...recordar eh viver!
...tao bom lembrar de coisas boas.


Mariah